apesar de tudo isso
brechós, muitos deles. roupas coloridas, de seda e plumas, poeiras do século passado, tesouros à venda. sorveterias, restaurantes, hamburguerias, muitos cafés. gorjetas recheadas, trabalhadores gentis, banheiros tecnológicos. país do norte do globo, time is money, esse tipo de coisa. alegria, férias, beijo, foto sorrindo, foto de braços abertos, foto pulando, breguice de turista. copinho de shot com ilustração de shot (pegou?) do Al Capone. imã de geladeira, família em bando, latinos nas calçadas pedindo dinheiro, crianças nos colo — latinos, como eu, pedindo dinheiro; onde devem dormir? roupas custando um dólar, festa das compras, nunca vi coisa tão barata, todo tipo de tranqueira que não cabe na mala. tênis de marca, eletrônico da melhor qualidade, pensamos até se não aproveitávamos e trocávamos o celular de uma vez. gente na rua, povos de todo o mundo, tanto idioma caminhando na calçada que fica difícil saber onde se está. falam mais espanhol do que inglês em alguns trechos. faz frio, não neva. rostos familiares, abraços nos parentes, crianças gritando hola! hola! nas calçadas. passeio em chinatown, lojinhas de variedades, lembrancinhas de um país que não é o de origem deles, os cheiros muito mais interessantes do que no resto da cidade, comida com história. I love USA, diz a camiseta na arara. o rádio ligado, a propaganda do governo na voz de uma mulher não adianta fugir, vamos te encontrar e você nunca mais voltará; entregue-se, imigrante, e tenha uma chance de viver. metrôs acessíveis, cachorros simpáticos no passeio matinal, maconha, muita maconha nos dermocosméticos e cigarros pra lá e pra cá. água quente nas torneiras, todos os banheiros com banheiras e algum glamour, medo de tomar um escorregão e não ter hospital pra ir. quanto será que custa enfaixar um pulso aberto? fast food com gosto, toda foto fica boa, arquitetura futurística, dia batendo perna na rua e muita informação, muita, muita, em tudo, por todo o lugar. nem assim dá pra esquecer.
em minúsculas porque hoje escrevo do celular — estou viajando. não para o norte do globo, coisa que fiz em março para visitar parentes, mas por estar fora de casa, me lembrei do registro acima que fiz no diário logo após voltar e decidi compartilhá-lo hoje. não tenho muito a oferecer agora, e acho que não tenho tido desde o início da news. na próxima, prometo me dedicar mais.
um beijo e um pedido de desculpas,
Fernanda.
(obrigada por assinar) 💌